21 de junho de 2011

Libri (parte II)

Aqui é sempre dia e noite. O Sol e a Lua encontram-se na mesma paisagem, ainda que distantes um do outro, são céu e inferno, são o não e o sim, são opostos e contrários. Este é um mundo onde o tempo parece não andar. Onde a noite e o dia se confundem.
Cada vez que olho para o relógio, as horas correm numa azáfama indeterminada contra o tempo. Fico confuso. Como devo associar a intemporalidade dos dias e das noites, com a apressada e nervosa corrida dos ponteiros. Quero pensar, mas se paro pensar só logo empurrado pelo vento. Só me resta, então, pensar nas passadas de alguém, pensar como alguém pensou. Não pensar, porque por aqui tão pouco alguém pensou.
Não é fácil. Pensar neste assunto e andar ao mesmo tempo. É como remar contra um rio, que sobe montanha acima, desde o oceano mais profundo. Não me deixam questionar porque apenas interessam as horas e não interessam os dias e as noites.
A caminhada continua. E a sombra lá vai, mesmo à minha frente. A certa altura, sem saber bem quando, a mente começa a mexer-se. Diz-me para olhar para a esquerda, e a passada diminui. As poros dilatam e o suor começa a escorrer. Como se sentisse pela a primeira vez água no corpo. Um misto de arrepios, confusão e calafrios. É o que sou, pois à minha esquerda está um trilho. Um caminho por estrear. Uma porta por abrir. À medida que ando, a inquietação sente-se, mais e mais. A sombra, essa de nada desconfia, enquanto andar ela está, como que, adormecida. Dou por mim no final da intersecção. Cabe-me a mim decidir, o que fazer. Mais passo menos passo, o tempo inalterado e as horas cada vez mais desreguladas, começo a pensar. E dou por mim parado. À esquerda, o trilho, pela frente a sombra, no pulso, o relógio e atrás, o vento, que se começa a fazer sentir.
Penso. A mente incentiva, e o vento contesta soprando cada vez mais forte. O tempo, que não passa, corre pelo o relógio. E eu, penso. A certa altura, a mente toma controlo e por meio de espasmos e sei lá que mais, atiram-me para o trilho. Caio estatelado. Dou por mim, espalmado no chão.
Ergo-me, e dou um passo. Dou outro passo. Sinto controlar os meus passos. Estranheza. Olho para trás e no chão tudo em branco. Os meus únicos dois passos, apagados. Olho para o caminho, e lá estava a sombra, acenando. Ignoro. O relógio, esse está parado. E no céu o Sol e a Lua ganham vida trocando de posição, fazendo assim o dia e a noite. O tempo começa a passar. O vento desaparecera, e tornara-se numa leve e purificadora brisa. A mente gostava desta brisa, trazia ideias novas, e sentia-se mais jovem. Eu sentia-me, eu, e mais a brisa fizemo-nos à vida.

20 de junho de 2011

Libri (parte I)

Quem eu sou, julgo saber. Para o quê, não faço ideia.
Sinto não seguir o meu caminho. Ando pelo o caminho de alguém, pelo caminho de uma sombra, sombra essa que me precede. Eu não a vejo, e tão pouco alguém a vê. Mas as marcas são bem notórias, ainda que invisíveis. Ao andar, recalco as suas pegadas. Faço delas as minhas pegadas e a cada passo, retrato o seu caminho, o caminho da sombra. Parece não existir outro caminho. Mas a minha mente diz-me que não, caminhos há muitos.
Quando me engano, ou quando a mente sugere um passo diferente do da sombra, sinto, desde os pés à cabeça, uma espécie de auto-realização. Sinto-me bem. Sinto-me diferente, sinto-me capaz de tudo sem ter feito nada, visto que, muito, seria ter calcado a marca da sombra. Como não o fizera, depressa alguém o faria por mim. Alguém refaria a marca. Talvez o vento, talvez a água quem sabe se o fogo ou mesmo a terra. Por certo que fora a Mãe Natureza.
Olhei para trás e sabia que aquela não era a minha pegada, mas a pegada que agradaria a um alguém. Eu e a minha mente sabíamos o que fizéramos. Só isso interessava. Não era tão pouco isso que me fazia continuar a andar nas marcas da sombra, mas sim o desejo de voltar a errar.
Quando ando, devagar ou depressa, tanto lhe dá. Só tenho, pura e simplesmente, que andar atrás da sombra. Volta e meia a mente assombrava-me com pensamentos fascinantes. Um caminho diferente. Um caminho ora traçado por outros, ora novo por estrear. Um caminho que interceptava outros caminhos. Estórias e mais estórias para serem contadas, aventuras para serem vividas e novos caminhantes por se conhecer. Conhece-los, e saber se também seguem uma outra sombra.

11 de junho de 2011

Je pense, donc je sui

Quando tenho o que quero
e não o que preciso,
sinto me triste e triste
sem razão no porque vivo.

Apanho o comboio do tempo
e nele me perco e penso,
o que quererão de mim,
nem um pensamento?

Mas quero parar para olhar
e calar para ouvir,
com ou sem ruído
o olhar, torna-se invisível,
mas de pálpebras cerradas,
o som parece inesquecível.

Rio e lacrimejo,
sinto na mente, a felicidade,
e no corpo, a alegria.
Não exijam de mim
o que não sou nesta Utopia.

6 de junho de 2011

Sufrágio

Prerrogativa, o ponto que se faz ao virar a página, de papiro leve e frágil e que lentamente se vira, sem que de pó se faça. Esse ponto onde tudo gira e nada roda, onde tudo se une e nada se prende. Onde tudo parece voar alto e bem próximo, onde as ilusões são o pensamento recriado, e as desilusões a realidade ilustrada. A vida que por ser como ela é, precisa de pontos e mais pontos, tropeçar e levantar, errar para aprender, um sorriso de dor para um suspiro de alegria.